Divórcio depois dos 40: crise, coragem ou consequência?
- sou40mais
- 3 de jul
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Tem muita mulher se separando depois dos 40. E não é por impulso, não — é porque algo muda. Muda por dentro e por fora. É como se, de repente, a vida colocasse um espelho na nossa frente e dissesse: "Agora olha com calma. Quem é você hoje? E quem você quer ser daqui pra frente?"
Esse movimento tem crescido tanto que já tem até nome: divórcio grisalho. Mas, de cinza mesmo, ele não tem nada. Ele chega carregado de dor, sim — porque não é simples romper com uma história longa. Mas também vem cheio de lucidez, de sede por leveza, por verdade e, principalmente, por um recomeço com sentido.
No episódio 7 do podcast Como Navegar pela Menopausa, conversei com a Dra. Mara Rúbia exatamente sobre esse ponto: por que tantas mulheres decidem se separar nessa fase da vida. E como o climatério pode ser, sim, um divisor de águas na forma como a gente se percebe — e percebe o outro ao nosso lado.
O que muda com o ninho vazio?
Muda tudo. A rotina, o barulho da casa, os horários — e, principalmente, o silêncio. É nesse silêncio que muita mulher percebe o que estava escondido há anos: o distanciamento. A relação virou logística. O casal virou sócio. A casa continuou cheia de tarefas, mas esvaziada de presença, escuta, desejo.
E aí, com o tempo livre e os filhos independentes, sobra espaço — e a dor que a gente não via mais aparece. E dói. Mas também ilumina.
Menopausa e casamento: onde as coisas se encontram (ou se rompem)?

A menopausa chega e bagunça. Os hormônios mudam tudo: sono, libido, humor, energia. Mas ela não mexe só no corpo. Ela mexe na nossa identidade. A gente começa a se perguntar coisas que antes não tinham nem espaço:
“Quem eu sou agora?”
“O que eu quero viver daqui pra frente?”
“Isso aqui ainda me serve?”
Muitas mulheres se veem atravessando um processo intenso de redescoberta — ou até de reconstrução. E quando não há acolhimento ou compreensão por parte do parceiro, esse abismo só cresce.
Um estudo feito em 2022 pelo Family Law Menopause Project, no Reino Unido, mostrou que 73% das mulheres que se divorciaram atribuíram à menopausa um papel direto nesse processo. Mais de 60% relataram que os sintomas afetaram negativamente o relacionamento.
Isso não significa que a menopausa causa o divórcio. Mas ela, sem dúvida, acende luzes em áreas da vida conjugal que estavam às escuras.
A crise é do casamento — ou é da mulher que finalmente se escuta?
Durante muito tempo, muitas de nós viveram para cuidar. Dos filhos, do trabalho, da casa, dos outros. E aí, um dia, a gente para. E percebe que nunca olhou pra si com a mesma atenção. Mas chega o momento em que a gente começa a se escutar. E, quando isso acontece, não tem volta.
A pergunta muda: “Se eu tenho mais 30 anos de vida ativa pela frente… é assim que eu quero viver?” E nem sempre a resposta combina com a vida que a gente tem hoje.
Algumas escolhem ficar — mas de um novo jeito. Outras decidem partir — com coragem, com dor, com lucidez.
E o papel do parceiro nesse processo?

Ele é fundamental. O que a Dra. Mara traz no podcast é muito claro: o parceiro pode ser ponte ou pode ser muro. O problema é que, na prática, muitos homens não sabem o que é menopausa. Pior: não querem saber.
Um estudo publicado no Journal of Women's Health revelou que, embora alguns reconheçam sintomas como perda de libido, irritabilidade e insônia, a maioria não tem empatia nem ferramentas para lidar com isso — e acaba se afastando emocionalmente.
Mas quando o parceiro se informa, participa, vai junto às consultas, escuta sem julgamento… tudo muda. A mulher se sente acolhida. O casal se reconecta. E a relação ganha espaço para evoluir junto com essa nova fase.
Como o casal pode atravessar essa fase com mais conexão?
Com disposição para se olhar de novo — mas de um jeito mais verdadeiro, mais maduro.
Aqui vão algumas estratégias que eu adotei e que podem ajudar:
Educação conjunta: Buscar juntos informações sobre a menopausa promove empatia e entendimento.
Terapia de casal: Um espaço seguro para conversar sobre mudanças, dores e desejos.
Redefinir a intimidade: O sexo pode mudar — e tudo bem. É possível descobrir novas formas de prazer e conexão.
Comunicação aberta e afetuosa: Falar sobre o que sente, mesmo quando é difícil, é essencial.
Presença emocional: Estar junto, de verdade, mesmo que em silêncio, vale mais do que qualquer discurso.
Considerações finais: o que importa de verdade
A menopausa não precisa ser o fim de nada. Mas, sim, o começo de muita coisa. Ela nos convida — às vezes exige — que a gente se olhe com mais verdade. E, nesse olhar, pode ser que a gente perceba que o amor ainda existe. Ou pode ser que ele tenha acabado.
O importante é que a escolha de seguir — ou de partir — venha de um lugar de lucidez, e não de medo. Porque recomeçar, depois dos 40, não é desespero. É força. É maturidade. É amor-próprio.
Se você está atravessando essa fase, eu te convido a ouvir o Episódio 7 do meu podcast Como Navegar pela Menopausa. Eu e a Dra. Mara falamos exatamente sobre isso: os desafios, os conflitos, os reencontros — e os recomeços possíveis.
E se quiser conversar mais sobre isso, me escreva (sou40mais@gmail.com). Porque você não está sozinha.
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